Opinião do Strapa

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Bate e Rebate

O ASSUNTO DO CONEXÃO POLÊMICA DA SEMANA PASSADA MERECE UMA OBSERVAÇÃO

Não costumo fazer isso, até mesmo para não influenciar a opinião de alguns internautas, mas sobre o assunto do "Conexão Polêmica" da semana passada, eu hoje resolvi falar, afinal este é um tema que me atinge diretamente, da mesma forma que atinge centenas de circenses em todo o país.

'O dinheiro do atrasado é um dinheiro morto?' Esta foi a pergunta, que obteve, no decorrer de sete dias, 25 respostas. Não foi um sucesso, nem bateu recorde de opiniões, mas tenho certeza de que o texto levou muita gente, donos, artistas e empregados à reflexão.

Pode parecer uma pergunta antipática à alguns donos e uma maneira de 'lavar a alma' dos artistas. Mas a pergunta tem extrema importância, para nós, que vivemos nesse mundo completamente sem leis.

Artista no Brasil não tem registro, contrato, carteira profissional, férias, décimo terceiro, direito a insalubridade, periculosidade, e por aí vai. Até os quinze dias já não é mais uma lei. Se na época em que Beto Carrero era vivo, existia o termo 'tempo de casa', hoje, ninguém mais sabe o que é isso.

Agora, ninguém pode se achar no direito de tirar do artista, o mínimo benefício que é receber o seu dinheiro. Vejam bem, não é nenhum "a mais". Não é nenhum presente. O atrasado é um dinheiro que deveria ter sido pago há tempos atrás, mas que o dono não pôde pagar; e o artista, rei da tolerância, deixou para receber mais tarde, como um voto de confiança.

Afinal, sabemos que nem sempre a bilheteria arrecada o dinheiro suficiente para a folha e para o leque imenso de gastos que um circo tem. O problema, meus amigos, não é o vale. O problema é que, o artista, quando vai embora, não vê mais o dinheiro, o seu dinheiro, o pagamento do seu trabalho, do seu suor, dos riscos que você corre durante sua apresentação, dos tempos em que você passou ensaiando.

A clava caiu milhares de vezes para um malabarista ser um bom malabarista. O globista já se espatifou várias vezes na esfera metálica. O mágico já errou o truque e passou vergonha diante do público. O palhaço já entrou no picadeiro triste, mas mesmo assim cumpriu seu papel. O trapezista já foi parar no hospital, depois de cair de mal jeito na rede. O motorista já cansou de dirigir os caminhões sem freio. O capataz já montou circo sem diaristas. O acróbata já perdeu as contas de quantas vezes trabalhou com espasmos. Mas o espetáculo nunca parou. E mesmo assim, quando o artista vai embora, o que muitos donos de circos fazem? Simplesmente esquecem. Não pagam. Não estou generalizando, mas o esquecimento faz parte em muitos circos. Infelizmente. O dono não quer saber se o cara ta passando necessidade, se alguém ficou doente, se ele precisa do dinheiro. O dono desliga o celular, deita e dorme, como se nada de errado estivesse acontecendo.

Lendo os comentários, me chamou a atenção a opinião do senhor Antônio Ferrão, advogado. E concordo quando ele diz que quem assume o risco do empreendimento é sempre o empresário, no caso, os donos, e não os colaboradores, no caso, os artistas e que se o empresário ver que é impossível saldar todas as suas dívidas trabalhistas, precisa rever os seus conceitos, pois muita coisa errada deve estar acontecendo. O advogado tem toda a razão.

E, para finalizar, quero responder a um Anônimo que escreveu um comentário que recebi há umas duas semanas atrás, que dizia que eu tinha a mania de querer ser gerente. Bem, quero dizer que quando fui gerente, o atrasado de uma praça era pago logo na estréia da praça seguinte.

Meus amigos, a conversa sempre é a melhor solução, mas isso, se o dono atender o telefone.