O Blog Circo News continua com a série de reportagens sobre o maior acidente em circos no Brasil e uma das maiores tragédias circenses do mundo. O terrível acidente, que matou 503 pessoas, completou 50 anos em dezembro de 2011. Na 3ª parte da reportagem, você vai ler sobre a elefante que salvou muitas vidas, a colaboração de um jovem e promissor cirurgião plástico e o choro do presidente ao visitar os sobreviventes no hospital.
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O Gran Circo Norte-Americano, de americano mesmo, tinha só o nome e um artista, o palhaço Walter Alex. Segundo Mauro Ventura, autor do livro " O Mais Triste Espetáculo da Terra", o proprietário, Danilo Stevanovich, era gaúcho de Cacequi, membro de uma família de sete irmãos que dominavam uma rede de circos na América Latina. Afora uma portuguesa, um japonês, um chinês e um casal francês, os demais artistas eram todos brasileiros do Rio Grande do Sul. Era o terceiro circo sob a administração dos irmãos Stevanovich que pegou fogo. Os outros dois, Bufalo-Bill e Shangri-lá, foram destruídos em 1951 e 52, respectivamente, na Avenida Presidente Vargas. Entre as vítimas, no entanto, estavam apenas animais do circo. Estes, por sinal, não eram poucos. Com três elefantes, uma girafa, 12 leões, dois tigres, quatro ursos pardos, dois polares, um chimpanzé, um camelo, um antílope, um cavalo e alguns cães, o Gran Circo se gabava de ser um zoológico itinerante.
A ELEFANTE QUE SALVOU VIDAS
Uma elefante fêmea que estava no picadeiro se tornou, anos depois, uma das heroínas do incêndio. Pronta para entrar em cena, Semba disparou em uma corrida desesperada quando um pedaço de lona queimada lhe caiu sobre o couro. Ao atravessar a lona, o animal abriu caminho e acabou salvando inúmeras pessoas – mas também fez vítimas em seu trajeto. Nos jornais da época, o feito de Semba ganhou destaque: “Com a tromba, atirou a distância dois assistentes, que conseguiram salvar-se. As feras escaparam, embora nenhuma delas tenha conseguido abandonar as jaulas. Só alguns elefantes saíram a correr, sendo imediatamente dominados pelos domadores”, escreveu o Jornal do Brasil.
IVO PITANGUY, UM PROMISSOR CIRURGIÃO PLÁSTICO
Quando houve o incêndio, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy trabalhava como professor na PUC, e ainda não tinha inaugurado a famosa clínica na rua Dona Mariana, em Botafogo. No dia, conta ao Jornal do Brasil, ele seguia para a Santa Casa da Misericórdia quando ouviu, pela rádio, o anúncio de que o circo pegava fogo. Pitanguy seguiu para o Iate Clube do Rio e, a bordo da sua lancha particular, atravessou a Baía de Guanabara para se juntar ao mutirão que procurava ajudar as vítimas. “Cheguei com uma equipe em pleno momento de comoção. Havia muita gente querendo ajudar, mas também uma enorme desorganização”, lembra o médico. “Lembro de um caso muito heróico de um menino que tinha se salvado e voltou para debaixo da lona para buscar o seu amigo. O que era mais dramático é que eram muitas crianças, e ao lado delas, seus amigos, de modo que devia haver ali pelo menos 500 delas”.
O CHORO DO PRESIDENTE JANGO
O presidente João Goulart visitou o Hospital Antônio Pedro, onde se encontravam as vítimas nos dias que se seguiram ao incêndio. Á época, contou o Jornal do Brasil que, em companhia do primeiro-ministro, Tancredo Neves, e do governador Celso Peçanha, "o presidente parou diante de uma menina de cor, envolta em gaze até o queixo, e lhe perguntou se tudo corria bem. A menina sorriu - e o presidente levou as mãos aos olhos, afastando-se logo. Diante de uma criança que mal respirava, exclamou, quase num sussurro: ‘Não é possível, meu Deus’”. Na época, Jango colocou - ou pelo menos afirmou que colocaria - todos os recursos da União para o Governo do Estado do Rio reforçar o trabalho de socorro às vítimas.
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