sábado, 2 de fevereiro de 2008

BETO CARRERO AMAVA O CIRCO
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ALÉM DE CONSTRUIR O MAIOR PARQUE TEMÁTICO DA AMÉRICA LATINA, O HERÓI BRASILEIRO TAMBÉM MUDOU O CONCEITO DE CIRCO E SE TORNOU O GRANDE REI DA LONA
A imagem do vaqueiro destemido e defensor dos injustiçados e dos animais, personagem que deu fama a Beto Carrero, esconde a figura de um empreendedor visionário, nascido em uma família simples e criado em um sítio no interior paulista, que das poucas oportunidades construiu um império. Está mais para “self made man” - expressão em inglês para aqueles que vencem na vida por conta própria - do que para caubói americano. João Batista Sérgio Murad nasceu em São José do Rio Preto em 9 de setembro de 1937. A mãe era dona de casa e o pai trabalhava na roça - o sobrenome artístico Carrero (quem conduz carro de bois) foi uma homenagem a ele. Era como Murad chamava o pai. E Beto?“Ah, Beto foi porque ele achava o nome bonito. Sérgio não combinava”, diz Aristídes Niehues, braço direito de Murad há 16 anos no Beto Carrero World, o maior parque temático da América Latina e quinto maior do mundo. O parque foi fundado em 1991, em Penha, Santa Catarina, e visitado por 10 milhões de pessoas. Desde criança, era vidrado em filmes de caubói e tinha adoração pelo personagem Zorro.A paixão pelo circo começou aos 14 anos. Impressionado com o espetáculo de uma trupe em Rio Preto, pediu para assistir e participar dos ensaios. Aprendeu a laçar e a manejar o chicote. Também conheceu um grande amigo: Dedé Santana. O humorista, conhecido pelo trabalho com Os Trapalhões, pertencia à família circense. Os dois se reencontraram no fim da década de 1970, quando Murad já era empresário. Na ocasião, Dedé convidou o amigo, “que sempre teve alma de artista”, a participar de programas de televisão. Na telinha, com Dedé e Renato Aragão, o Didi, ele se tornou conhecido do grande público como Beto Carrero.Murad era uma pessoa de amizades duradouras, que sempre resultavam em bons negócios. Com Didi e Dedé, produziu Os Trapalhões, na TV Globo. Há três anos, lançou o Comando Maluco, no SBT, estrelado por Dedé. “Estava desempregado havia dez anos. Só ele me ajudou”, diz o humorista. O apresentador de TV Gugu Liberato era outro grande amigo. Os dois foram sócios por 20 anos em uma produtora e outros empreendimentos. Não importava o tipo de negócio, o objetivo era ganhar dinheiro. Produziram Escolinha do Barulho, para a TV Record, e construíram prédios em Alphaville. Costumavam viajar juntos. Um dos destinos era, claro, Las Vegas.Murad foi tentar a vida em São Paulo ainda adolescente. Seu primeiro trabalho foi como vendedor de classificados. Não demorou para ter a sua agência. Em sociedade com o irmão, André, alçou a JSM (suas iniciais) a 19ª agência do País. Gabava-se de ter lançado Regina Duarte como garota-propaganda. “Foi quando começou a fazer amizade com artistas e a empresariá-los”, conta Aristides. “Beto era um empreendedor nato. Estava sempre inventando.” E se deu bem em tudo - já fabricou de cristais a enxoval. A gentileza era uma arma. Quando um concorrente instalou-se ao lado de sua agência, na Avenida Rebouças, não hesitou. Ligou para dar boas-vindas. “Ele era diferente. Os publicitários de terno e ele de camisa colorida, fora da calça, e anelão nos dedos”, diz o publicitário José Carlos Stabel, o “concorrente”. “Mas sabia tirar leite de vaca”, conta.Murad morreu aos 70 anos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, na madrugada de sexta-feira, durante uma cirurgia no coração. Fora internado havia dois dias com febre e cansaço por causa de uma infecção cardíaca. Em setembro, fez um implante na válvula aórtica. “Ele foi um incentivador e grande amigo”, disse o humorista Carlos Alberto de Nóbrega, amigo de Beto há 40 anos.Ontem, o Beto Carrero World permaneceu aberto. Será administrado pelo mais velho dos três filhos, Alex Murad, de 30 anos. Além do parque, Murad fazia shows itinerantes, administrava cinco circos, produzia e participava de quadros no Comando Maluco, no SBT. O corpo de Murad chegou por volta de 15 horas ao aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina, onde foi recebido por cerca de 2 mil pessoas. Fãs, amigos e parentes seguiram o cortejo fúnebre do Corpo de Bombeiros, ao lado de carros alegóricos, caubóis do parque e o cavalo Faísco, até a Igreja da Penha. Foi decretado luto oficial de três dias no Estado. De férias nos Estados Unidos, o humorista Renato Aragão lamentou a morte do amigo. Em nota, disse que “Beto Carrero era um grande brasileiro. Sua vida foi um exemplo a ser seguido por todos aqueles que sonham e não desistem”. Para Dedé, o artista permanece. “Quem morreu foi o empresário. Beto Carrero continua vivo.”

Um comentário:

Anônimo disse...

João Batista Sérgio Murad, meu herói de criança. Quando fui visitar o parque do Beto Carrero ele já tinha morrido, isso me destruiu por dentro pois queria conhece-lo, e acabei apenas vendo o faísca triste, amargurado, sem o seu cowboy.