terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

ENTREVISTA:
PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA RÉUS,
O PALHAÇO CHEVROLET:
"Circo grande é pura ilusão."
Paulo César não esconde de ninguém a vontade que sente de voltar a pintar a cara e arrancar sorrisos de crianças e adultos. Nesta entrevista, ele nos fala porque esse seu desejo ainda não foi realizado, traça um comparativo entre circos grandes e pequenos, fala das diferenças de salários entre artistas e surpreende ao se dizer arrependido de ter sido um capataz carrasco.
FICHA TÉCNICA:
Nome: Paulo Cesar de Oliveira Réus
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Idade: 38 anos
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Empresa atual: estou parado, vim me tratar. Estava no Circo Moscou
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Função: eletricista e soldador
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Há quantos anos trabalha em circo? 28 anos
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Circos que já trabalhou: Circo Super Star, da dona Tereza, Circo Berlim, do Marino Candal, Circo de Natal do Tititi, Circo Sacarrolha do Sacarrolha, Circo Columbia do Alceu, Circo Imperial do Caneta, Circo Moscou do Tititi, Circo Magno 2000 do Alberto, Circo Espacial do Meinha, Circo Holliwoody do Timbinha, Circo Las Vegas do Titi e do Pepe, Circo Strapazzon do Strapa e não pode faltar o meu né, Circo Teatro Show. Ufa, acho que não esqueci de nenhum.
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O que já fez em circo: sou capataz, soldador, eletricista e palhaço.
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Circo News: Como, onde e quando começou sua história com o circo?
Paulo: Minha história começou quando fui a um circo perto de onde morava com minha namorada e o locutor anunciou que precizava de moças e rapazes pra viajar e ali ingressei na carreira circense. Éra o circo do João e da Tereza.
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Circo News: Após tantos anos de circo, qual a lição que você tirou deste meio de vida?
Paulo: No meu convívio em circo aprendi uma boa lição de vida. Aprendi a ser mais humilde e mais humano.
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Circo News: Vale a pena ser circense hoje em dia?
Paulo: Ser circense hoje em dia vale a pena sim, mas pra quem gosta, pra quem tira a camisa e tem amor ao circo. E não vale a pena para aqueles que acham que circo é um mar de rosas, que só pensa em ganhar dinheiro e não dá o sangue por aquilo que dá o sustento à ele.
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Circo News: Você já trabalhou em circos grandes e pequenos. Na sua opinião, qual a diferença entre eles?
Paulo: O circo grande é pura ilusão de ótica. Se vê beleza, brilhos, lantejoulas, luz, mas o que é bom não tem, é a humildade para com os artistas. Acham que os artistas são eles e a lona, e você não passa de ser mais um na companhia. Se você não estiver satisfeito com o salário que lhe oferecem, lhe dizem sai fora, porque tem quem queira, e o palhaço é um enche programa pra tapar furo dos outros. Agora o circo pequeno te contrata porque precisa de você, te paga o que podem mais te paga, te dá valor porque você se torna da família e tenta te pagar o melhor possível para que você não vá embora. Te dão a melhor venda sem o olho grande de saber quanto você está ganhando e sem interesse na sua venda e o palhaço é artista, é rei do riso, é um astro do circo.
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Circo News: Há alguns anos que você deixou de fazer reprises. Por que decidiu aposentar o palhaço Chevrolet?
Paulo: Eu parei de pintar a cara porque os circos pequenos estão acabando e eu gosto de trabalhar à moda antiga de esquetes, comédias, dramas, coisa que circo grande não faz.
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Circo News: Em tantos anos de circo, qual a situação mais complicada pela qual você já passou?
Paulo: A situação mais complicada acontecia em temporais quando tinha que socorrer o circo. E olha que não foram poucas.
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Circo News: Você também já foi capataz. Como você tratava os empregados?
Paulo: No meu tempo de capataz eu era muito ruim com os empregados para puxar saco dos patrões e sempre deixar o circo em ordem. Nunca gostei de maconheiro, de cheirador e bêbados, mas o tempo foi passando e eu notei que não tinha amigos por minha conduta de capataz. Para os donos de circos, o que importava era o meu serviço e para os empregados eu era carrasco.
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Circo News: Você se arrepende de algo que fez ou deixou de fazer durante os anos em que esteve no circo?
Paulo: Eu me arrependo de muita coisa, principalmente de puxar saco de patrão e ir contra os empregados que dormiam mal, comiam mal e pior de tudo, tinham que dar de frente com um capataz que só via o lado do circo e não o deles.
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Circo News: Qual conselho você daria para uma pessoa que quer ingressar na carreira circense?
Paulo: O conselho que eu dou pra quem quer ingressar na carreira circense é: não seja puxa saco, porque o puxa é o primeiro a ser escorraçado, dê o sangue pelo circo, trabalhe com amor não com ganância. Claro que ganhar bem todos querem, até eu, mas faça por merecer sem ter que pisotear nos seus colegas.
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QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE: - PALHAÇOS COM APITOS: Eles têm os seus méritos. Gosto de muitos, eu tenho muitos amigos palhaços de reprises com apitos, mas eu chamo de tapa furo porque só serve pra circo grande que não dá pra falar e quando alguns tentam levar entradas como esquetes são barrados pelo dono de circo porque demoram demais.
- REPRISES TRADICIONAIS: Virou bagunça, em qualquer circo grande que você vai, você vê baldinho, musical de instrumentos... Caramba, tantas coisas boas pra fazer e todos fazem as mesmas coisas todos os dias! Eu, particularmente, posso ficar dois meses na praça que não repito uma esquete, ou comédia, ou drama, mas isso em circo pequeno.
- SALÁRIO DOS ARTISTAS: Vejo muitos fazendo pouco e ganhando absurdo, e muitos fazendo muito e ganhando pouco. Claro que aqueles que fazem pouco e ganham muito são uns tremendos puxa sacos, é o que não faço mais. Prefiro ganhar pouco, acho que quem deveria ganhar bem é o que menos ganha. São os empregados práticos que montam e desmontam e ainda são barreiras.
- EMPREGADOS DE CIRCO: Tratem eles como ser humanos, dê mais oportunidades, mais comforto e melhores comidas, porque se não são eles, o quê seria do artista, sem o empregado não teria o artista, a lona montada, na realidade não teria circo.
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TEMA PARA DEBATE
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4 comentários:

Anônimo disse...

POUCOS TEM A CORAGEM DE FALAR O QUE O PAULO CESAR FALOU... SE ARREPENDEU DE SER PUXA SACO. QUE COISA, BONITO GESTO. PARABÉNS

paulo reus disse...

gostou papudo

isso foi ótimo que o paulo falou tomara que todos os donos de circo vejão essa entrevista e aprendão a dar valor a palhaço de picadeiro eu tambem sou palhaço e não gosto de circo grande

Unknown disse...

Amei a entrevista do paulo,e nao é por que sou de um circo pequeno,é por que ele simplismente disse a realidade,e teve coragem de falar sem pensar que poderia estar magoando alguem,ele conseguiu agora ver o lado humano,e se compadeceu da situaçao dos empregados,parabens vc pode ir longe...

Anônimo disse...

olha, eu não sou de circo, mas tenho um amor muito grande por circense. gostei muito da sinceridade do paulo cesar. ele está certissimo, agente aprende muito com a escola da vida. Valeu.